Quantcast
Channel: Óperas de Sabão » Internet
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5

O novelão no país da ‘trollagem’

$
0
0

Há três meses no ar, Salve Jorge vai padecendo com um público que só demonstra duas reações: má vontade e deboche. E daí que fico me questionando o porquê dessa forma de acolhimento da obra. Não quero entrar no mérito de falar de qualidade de produção, embora considere como grande problema uma falta de afinação entre a direção e alguns núcleos da trama (ao passo que o núcleo mais popular possui um resultado interessante em termos de concepção e interpretação, alguns outros têm um resultado diferente no vídeo – bem aquém dos envolvidos). Penso que para além das questões de enredo, direção e escalação, a recepção a Salve Jorge pode encobrir algumas das questões envolvendo a telenovela atual.

O novelo

A trama central de Salve Jorge está focada no tráfico de pessoas, assunto que merece a atenção de autoridades e que preocupa gente em diversos cantos. Lembrei dia desses que, visitando uma amiga em Buenos Aires ano passado, recebi a orientação de não pegar qualquer táxi nas ruas – segundo ela, muitos casos de tráfico de pessoas começaram assim… Em São Paulo, ouve-se aqui e ali sobre bolivianos vivendo em regime tão torpe – mas, não sabemos como é a cara deles, como vivem, onde moram; sabemos apenas que permanece um sistema de escravidão numa época em que todos vomitam termos como “direitos humanos”, “moralidade” e “politicamente correto”… Isso mostra o quanto temos melhorado como seres humanos…

Não é novidade que Glória Perez sempre se utilizou de suas tramas para trazer à baila certas discussões e, quer a gente goste ou não de suas tramas, é inegável que ela conseguiu resultados interessantes com algumas delas. Salve Jorge, porém, não tem suscitado até agora nenhum debate: críticos não demonstram disposição alguma para analisá-la e parte do público órfão de Avenida Brasil se realiza com o prazer da ironia, a busca do detalhe capaz de virar assunto nas redes sociais. Quando muito, a trama central gerou uma discussão no programa da Ana Maria Braga, mas nada mais relevante jornalisticamente (e pensar que houve uma época em que as tramas pautavam o Globo Repórter…).

O mito do ‘real’

Ainda que voltada para questões sociais, verossimilhança não é o melhor termo pra se tratar de telenovelas de Glória Perez. No entanto, é essa ideia que mais se usa para atacá-la. Mesmo quem vive por aí dizendo que o compromisso da novela é com o universo ficcional, de repente escreve posts imensos comentando a incoerência de atitudes dos personagens… Daí vêm as perguntas: Quem será que está torto nessa história toda: o público, que elege valores diferentes para avaliar cada trama, ou a autora, fiel a seu universo? Ou será que esse universo ficcional já ficou datado? Acabou a era de merchandising social nas novelas? (Tenho mais perguntas que respostas prontas, mas sou dos que acreditam que muitas vezes, as perguntas importam mais.)

Em todas as suas obras, Glória tem sido fiel a uma visão de mundo. E é um discurso interessante o da autora, que alia conservadorismo e progressismo de uma forma por vezes perturbadora… Considere, por exemplo, o percurso de suas heroínas: nunca são empáticas (e coitadas das atrizes que se lançam na empreitada: sempre são consideradas péssimas e sem talento!). Sofredoras, em nome do acerto, batalham sempre insistindo no errado. Se algumas buscam a todo custo sair de uma estrutura de poder (às vezes representada por um homem), é somente para cair em outra (o casamento com o homem amado, mas que surge como “dignificante”). Enfim, trata-se de um mundo moral todo próprio criado pela autora e que mereceria uma boa análise. (Vou voltar a esse universo quando comentar a novela Carmem em post futuro). Mas, categorizar de antemão suas obras sob o rótulo de “bobagem” é mais fácil – porque a preguiça crítica rende mais na internet que a devoção analítica.

Seriedade ou pastiche

Desde que foi anunciada, Salve Jorge se colocou um tom forte de seriedade, que não tem convencido muitos telespectadores. Mesmo uma cena que deveria ser um momento de grande tensão – a morte de Jéssica (Carolina Dieckmann) por Lívia Marini (Cláudia Raia) – se tornou motivo de graça na rede…

claudia raia

No Facebook, a trollagem da vilã.

Penso que em uma época em que trollagem e ironia são tidos como os únicos atributos de “inteligência”, não está sendo nada fácil escrever novela das oito nove. (A não ser que se assuma, de algum modo, esses aspectos em seu formato?…) Quando o único espaço de comunicação possível é o deboche, o “novelão” nos moldes de Salve Jorge sempre será visto como pastiche…

Veja também: Riqueza pega? e Onde estão os (novos) conflitos?



Viewing all articles
Browse latest Browse all 5

Latest Images

Pangarap Quotes

Pangarap Quotes

Vimeo 10.7.0 by Vimeo.com, Inc.

Vimeo 10.7.0 by Vimeo.com, Inc.

HANGAD

HANGAD

MAKAKAALAM

MAKAKAALAM

Doodle Jump 3.11.30 by Lima Sky LLC

Doodle Jump 3.11.30 by Lima Sky LLC

Trending Articles


Ang Nobela sa “From Darna to ZsaZsa Zaturnnah: Desire and Fantasy, Essays on...


Lola Bunny para colorear


Libros para colorear


Mandalas de flores para colorear


Renos para colorear


Dromedario para colorear


mayabang Quotes, Torpe Quotes, tanga Quotes


Love Quotes Tagalog


Tropa Quotes


Mga Tala sa “Unang Siglo ng Nobela sa Filipinas” (2009) ni Virgilio S. Almario


Gwapo Quotes : Babaero Quotes


Kung Fu Panda para colorear


Girasoles para colorear


Dibujos para colorear de perros


Toro para colorear


Lagarto para colorear


Long Distance Relationship Tagalog Love Quotes


Tagalog Long Distance Relationship Love Quotes


RE: Mutton Pies (mely)


El Vibora (1971) by Francisco V. Coching and Federico C. Javinal



Latest Images

Pangarap Quotes

Pangarap Quotes

Vimeo 10.7.0 by Vimeo.com, Inc.

Vimeo 10.7.0 by Vimeo.com, Inc.

HANGAD

HANGAD

MAKAKAALAM

MAKAKAALAM

Doodle Jump 3.11.30 by Lima Sky LLC

Doodle Jump 3.11.30 by Lima Sky LLC